quarta-feira, 27 de julho de 2011

SE EU FOSSE VOCÊ

Se eu fosse você, teria descoberto a chave secreta da felicidade. Você não conseguiu isso porque, sobretudo, o que o impede é a preocupação de ser quem é e não outra pessoa diferente de você. Mas se você me fizesse dono de sua responsabilidade, eu faria com ela tudo o que você e eu, sem nos conhecermos, vimos desejando fazer cada vez que nos sentimos predispostos ao disparate. E é isso precisamente o que nenhum de nós dois se atreve a fazer.

A solução é esta: se eu fosse você, o problema estaria resolvido.

Você se levanta cedo, vai ao banheiro, toma café às pressas, sempre de olho no relógio, submetido ao seu impenitente cativeiro. Você é uma pessoa responsável. Desgraçadamente também a mim e a quase todos os homens acontece o mesmo. Mas se eu fosse você ou, dito de outra forma, se você fosse uma pessoa diferente, dormiria até quando lhe desse vontade, tomaria banho só quando o corpo exigisse e chegaria ao trabalho sempre uma hora antes dos outros começarem a sair.

Eu me preocupo comigo. Se eu fosse você, sua responsabilidade não me importaria nem um pouco. Você não gostaria de ser como aquele sujeito imaginário, em tão invejosos extremos de felicidade, que convida para ir à praia a mulher invisível com que sonhou na noite passada ou não se preocupa que lhe tirarem a escada, porque converteu num fato prático a possibilidade de agarrar-se ao pincel? Eu não posso fazer isso. Mas se eu fosse você, faria. Se caísse, caiu.

Se eu fosse você faria o que você, o tempo todo, tem vontade fazer e não se atreve. Eu, é verdade, não me atrevo. Mas se eu fosse você, me atreveria. Iria para a lua de calção de banho com o guarda-chuva aberto ou, quem sabe, sem um nem outro. Sairia para a rua na mais lamentável vestimenta com que me trouxeram ao mundo, com um chapéu de cow-boy na cabeça, cantando música sertaneja e depenando uma galinha, sem me preocupar com o que dissessem de mim, porque tudo o que se dissesse seria de você, esse é o segredo. Medidas policiais que poderiam ser tomadas contra minha pessoa? Ora, seria contra a sua!

Claro que você é incapaz de semelhante extravagância. Eu também sou. Mas se eu fosse você, o problema estaria resolvido.

O que faz de nós dois indivíduos infelizes é precisamente o fato de sermos realmente quem somos e não outra pessoa diferente. Vira e mexe nos dá vontade de acertar as contas com alguém, mas não nos atrevemos porque sabemos quais seriam as conseqüências. Nem você nem eu podemos fazer tal coisa. Mas se eu fosse você... ah! ia lá e pimba.
O mal é que cada um de nós não pode ser senão quem é. Muito de infelicidade resulta é daí mesmo.

Se você fosse eu, você ia lá e fazia, né! Uai! Então? Ta esperando o quê?

Um comentário:

  1. "Eu, é verdade, não me atrevo. Mas se eu fosse você, me atreveria. Iria para a lua de calção de banho com o guarda-chuva aberto ou, quem sabe, sem um nem outro....Se você fosse eu, você ia lá e fazia, né! Uai! Então? Tá esperando o quê?"

    E tem mais para dizer?

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