quarta-feira, 27 de julho de 2011

RESENHA COMENTADA – 1

Outro Cristianismo é Possível – Roger Lenaers

Abertura
O padre Roger Lenaers é um jesuíta belga, nascido em 1925, especializado em línguas antigas, com mais de 30 publicações. Ele escreveu “Outro Cristianismo é Possível” (*), depois dos 80 anos e a liberdade que só a experiência da vida e a proximidade da morte concedem.

Algumas pessoas a quem eu indiquei acharam o livro de difícil leitura. E me pediram que eu fizesse um grupo de estudos, à moda antiga, para acompanhá-las no empreendimento de ler e entender autor e livro. Eu pensei, pensei... e vi que não tenho mais coragem. Já passei do peso e da idade de fazer essas coisas. Mas não poderia, não conseguiria deixar meus amigos na mão. Se eu tenho algo que posso dar, tenho de dar. Tudo o que não é dado é perdido.

Então, para “remediar”, resolvi fazer essa resenha comentada. Sei que não é a mesma coisa. Mas é melhor que nada. Tomara que o livro se torne claro e as idéias ali contidas possam iluminar. Afinal, tudo o que queremos é o mesmo que Goethe quis no último momento de vida: “Mais luz!”
Eu morri de rir com a advertência do autor no início do livro: “Não leia esse livro caso você não tenha nenhum problema com a Igreja Católica Romana, com sua maneira de pensar e falar, com seu código de conduta, com sua doutrina e sua forma de aparecer em público, com o modo como ela se faz visível e audível para dentro e para fora. Leia-o somente se acredita que as coisas não podem continuar como estão na Igreja Católica, e se gostaria de saber como deveriam continuar.”

Por incrível que pareça, por mais incoerente e desnecessário que possa ser, queremos pertencer. Que absurdo! Em pleno século XXI! Pois é. Mas estamos o tempo todo confrontados com a Igreja atual, uma Igreja que cada vez mais se apresenta com uma aparência medieval que já foi superada. Ou que, pelo menos, deveria ter sido. V. não acha?

Em 1965 (quase 50 anos atrás) com o encerramento do Concílio Vaticano II, uma nova era havia começado. Eu me lembro perfeitamente do primeiro domingo da quaresma daquele ano (eu tinha sete), quando o altar da igreja matriz foi virado e o padre celebrou pela primeira vez de frente para o povo e na mesma língua que o povo falava e, inclusive, ele, o padre, também. Havia um entusiasmo com as mudanças, como se todos estivessem plantando num terreno selvagem. Nasceu muito cogumelo venenoso, eu sei.

Mas nascia. Nascia tudo, mas nascia. Aí, transformaram o terreno num jardim. E, depois, impermeabilizaram o jardim. “Aqui só nasce o quê os donos do jardim quiserem plantar”, disseram os donos do jardim. E aí o jardim perdeu toda graça. E a partir dos anos 80, retrocedeu-se em todo avanço.

Cautela, prudência ou covardia? A História vai dizer. A História é cruel, anote aí.

Quem conheceu a riqueza de formas da religião de antes não consegue não ter uma postura ambivalente com relação a tudo o que tudo virou, num misto de amor e desprezo. E tem os “novos católicos” – meu Deus! – a gente não sabe direito o que é isso e no que vai dar. Seja como for, pelo motivo que for, conhecer nunca é demais. “Pense o que se quiser em certos meios, vocês não terão razão em acreditar que os autores sagrados não sejam uma boa leitura. Quanto a mim, só encontrei recompensas em nela mergulhar...” (Lacan, Seminário 7 – A ética da psicanálise).

Mas por que a Igreja Católica Romana? Por que não outra? E por que não nenhuma? A resposta a seguir só vale para os que cresceram nela. A resposta é: porque crescemos nela. Tautologia ou não, é porque crescemos nela, mesmo. Porque formamos a nossa identidade dentro dela, como acontece às famílias. A gente briga com a família e não vai mais comer a macarronada do domingo na casa da mãe, mas não troca de família, nem consegue dizer que não tem nenhuma.

Esse é o paradoxo e a aporia desse livro. E, afinal, desse momento. Querer pertencer e ao mesmo tempo não conseguir.

Tem jeito? Tomara.

* Outro Cristianismo é Possível, Roger Lenaers, Paulus, SP, 2010.

Um comentário:

  1. Quantas homilias eu escutei com maior interesse possível, os padres(sabedores das coisas como são) iam até um ponto e???? Não passavam dele, eu pensava esse cara tem condições de ir mais e aí só sobravam muitas interrogações. Ir pra frente, falar mais e sair um pouco dos "mistérios" significa CLAREAR e fazer luz é deixar muita coisa a mostra, estando a mostra não se justifica uma série de coisas dentro da igreja católica.

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