sábado, 16 de julho de 2011

OSTENTAÇÃO

Um eucalipto é vistoso. Nasceu assim. Cresceu assim. Aprendeu que não precisava ser nada mais na vida, além disso: aparecer. Um eucalipto é vistoso e chega a ser lindo.

Mas é tanta a energia que o infeliz gasta pra se manter robustamente em pé, que não sobra nada para produzir fruto. Onde cresce, seca a terra. Onde vive, ninguém habita: nem minhoca nem insetos nem passarinhos. Não há vida ao redor do eucalipto, a não ser outro eucalipto, igualzinho a ele, tão sem assunto quanto ele. O eucalipto padece solidão de si mesmo.

Uma abobreira não é vistosa. Nasceu assim. Cresceu assim. Aprendeu que não precisava ser nada mais na vida, além de abobreira. Uma abobreira não é vistosa e não chegará a ser, propriamente, linda.

Mas é tão pouca a energia que ela gasta pra se manter, ali, no chão, que sobra muita para produzir fruto. Onde cresce, devolve à terra mais que tira dela. Onde vive, é uma festa de minhocas, borboletas, passarinhos! Há imensa vida ao redor da abobreira. A abobreira jamais padece solidão de si mesma.

E não faz questão nenhuma de aparecer. Não gasta nenhuma energia para se manter, pela simples razão de que não precisa manter nada. Vive colada ao chão de onde veio. Vive onde vive. Não há quem entenda mais da vida do que a abobreira. Não há quem entenda mais da vida do que aquele que vive perto do chão, de onde veio.

A diferença presente entre os dois dá pra ver na ostentação do eucalipto. Ostentação é falha de caráter. Denuncia valores corrompidos e patológicos. A diferença futura entre um e outro dá pra ver na terra que ficar para a posteridade: areia estéril ou húmus fértil.

Destino da abóbora é virar doce, fazer a festa. Destino de eucalipto é virar papel, fazer papelão. Aliás, o mesmo da ostentação, né.

Um comentário:

  1. Basta eucalipto e abobreira terem discernimento para saberem que são "eucalipto" e "abobreira".
    Porque corre-se o risco de eucalipto se achar abobreira e abobreira nem se achar no meio do caminho.

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