terça-feira, 6 de setembro de 2011

DIVÃ 4

O que uma sessão de análise é?

Eita perguntinha difícil!

Uma sessão de análise – ou uma terapia, a gosto do freguês – é uma situação difícil de cunhar. Uma analisanda definiu magnificamente como “local ”

É ali que você repassa a vida. Melhor. É ali que você passa a vida a limpo. Você, decerto, teve o famoso caderno de rascunho. Na minha época, havia. A gente copiava as aulas no caderno de rascunho e depois passava a limpo, em casa. O ato de passar a limpo organizava as idéias e promovia aprendizado. Simple like that!

Mas tem mais. Isso é só o começo de uma coisa difícil de ser dita, definida, sei-lá-mais-o-quê. Embora tenha gente que não goste nem compartilhe dessa idéia, quando você se deita no divã, o fluxo das idéias leva você de volta para um lugar sem lugar, uma utopia de você mesmo, pra lá, onde você realmente está quando está só com você, como, por exemplo, no sono, no sonho.

E isso provoca o quê? Isso provoca associações, diferentes associações, muitas associações. E você, que havia chegado ali, um tempo antes, pensando que só sabia pensar de um jeito, numa direção, numa enjoativa especialização de repetir as mesmas coisas, queixas e teorias vazias, de repente, se pega diferente, mais leve, mais solto, criativo, intérprete de si mesmo, redator de outras falas tão plenas, que até você se estranha perguntando: Quem é esse aí?

É você! É o você que você não conhecia. Nessas horas, dá até vontade de fazer a apresentação formal, do tipo, solene, com palavras outras que bem podem também ser essas:
- Você, esse é você!
- Prazer em conhecer você, você!

Nunca lhe passou pela cabeça a desgraça sem tamanho de passar pela vida sem conhecer realmente quem é você. Né, Você? Ara. Porque deve ser mesmo um infortúnio sem tamanho ser hospedeiro de um hóspede cuja convivência define toda a hospedaria e, no entanto, passar pela vida totalmente alheio a quem seja ele.

Ele... é você. Ta. Vamos combinar assim?

Até a próxima.

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