sábado, 17 de setembro de 2011

DIVÃ 13

A diferença entre a expectativa e a esperança está no prazo: a expetativa tem prazo, a esperança, não.

Há uma grande esperança de que a fome na África seja resolvida nos próximos 50 anos. Existe uma esperança (num milagre!) de que aconteçam ações governamentais no sentido de fazer com nesses próximos 50 anos não haja mais crianças morrendo de inanição. 50 anos é muito ou pouco tempo? Depende. Se for expectativa, é uma eternidade. Se for esperança, não. Na esperança, o tempo é outro.

Olhe pra você. Existe alguma expectativa séria de que alguém com quem, de alguma forma, você pretenda viver pelo resto de seus dias, ou nem tanto, corrija de maneira “ortopédica” algum desvio incongruente às idéias que você tem a respeito dele? Vamos melhorar essa frase. Você espera que o outro deixe de beber, pare de fumar, abandone algum vício difamatório, mude os contornos do jeito de ser? Caramba! Se for assim, você tem um problemão!

Porque, não importa quem, ele e você enfrentam resistências acobertadas por mecanismos de defesa que agem em surdina. Quando você tenta alcançá-las, suas defesas recrudescem. Quando você acha que enfrentou, a situação vazou, pelo vão dos dedos.

Os mecanismos de defesa são ferramentas do Eu, para se livrar da angústia. Mas, ao mesmo tempo, são parasitas do Eu. Cada um deles lida com um tipo de realidade: a realidade interna e a realidade externa. A manipulação da percepção, que você já ouviu falar, incide nos dois lados desse balão do Eu: no ar quente interno e no ar frio externo. É o equilíbrio entre o ar quente de dentro e o ar frio de fora que faz o balão subir. Muito ar quente, o balão sobe. Muito ar frio, o balão desce. São duas realidades operando na interface da lona do balão. Que nesse caso, já disse, é o pobre coitado do Eu, a quem são concedidas honras de piloto, mas que, na verdade, não passa de um subalterno tentando agradar a gregos e baianos.

É importantíssimo conhecer esses mecanismos que conduzem o dirigível à revelia do piloto. Tudo o que não se pode nessa vida é dirigir na neblina. Se for um balão, vá lá. Mas se você dirigir sua vida como se fosse um carro, de repente, entrar numa neblina densa, é uma situação horrorosa. Você perde de vista a estrada, não sabe pra onde ir, não sabe onde parar, não pode ir em frente, não pode parar. Os 270 carros do último desastre-monstro dão ideia dessa absoluta impotência. A neblina é um branco escuro. A vida também.

Um comentário:

  1. Pode-se até traçar um plano de voo, mas a verdade é que ele só é válido até certo ponto, pois sempre há variáveis no caminho.
    Há de se ter um rumo sim! Mas não adianta exigir extrema perfeição na rota da vida, pois ela sofrerá alterações, basta não perder o foco no ponto de chegada! E até esse pode mudar, pois, ao caminhar a visão sempre se alonga... o horizonte se amplia, e de repente, quem sabe... não se decide que a chegada será mais ao longe!?
    Tudo muda o tempo todo! É a natureza da vida e contra isso não podemos lutar!

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