domingo, 18 de setembro de 2011

DIVÃ 14

Você chegou ao mundo com uma caixa de ferramentas pequena e muito vazia. Na sua estréia, havia apenas uma ferramenta pronta: a boca. Foi o fato de você sugar tudo o que tocasse nela que lhe garantiu a sobrevivência. Não fosse isso...

Durante a vida, não só essa caixa foi sendo aumentada como também outras ferramentas foram adicionadas. Desde a chupeta, você aprendeu a lidar com brinquedos e com coisas, a andar, a falar, entrou na escola, foi pulando de estágio em estágio e, enfim, conseguiu que a caixa de ferramenta ficasse maior, com muitas outras ferramentas adquiridas ao longo da vida. Você conseguiu que a vida fosse boa mestra. Ou não. Depende. O fato é que você não sucumbiu. Está aqui. E promete.

Mas não foi fácil. O mundo não é um quarto de bebê. A vida é exigente e a gente tem de aprender a lidar com todas as exigências do mundo interno e do mundo externo. E pra isso, a gente manipula percepções, faz vista grossa, finge que não escutou, deixa pra lá... Essa percepção manipulada pode ser tanto de um episódio do seu mundo interno (pensamentos, sentimentos, impulsos, afetos) ou de episódios do mundo externo (as exigências do outro, do mundo).

O Evangelho diz que “Ninguém pode servir a dois senhores”. Mas é justamente isso que os mecanismos de defesa tentam. Eles tentam (pelo menos, tentam) servir a todos os senhores, os que estão dentro e os andam por aí, fora de você. Todos são ávidos de satisfação e de manipulação. E você está aí, no meio disso tudo, driblando a força dos impulsos internos e a dura realidade externa. Isso é uma façanha de herói. Ser gente não é pra qualquer um, não.

Os mecanismos de defesa fazem parte da sua caixa de ferramentas. Não basta ter uma caixa cheia. É preciso saber como usar cada ferramenta. Para abrir portas? A chave do chaveiro. Para trocar pneus? A chave de roda. Tenta fazer o serviço de uma com outra, só pra ver! Sem falar na chave de cadeia, chave de braço e até na chave na mão de São Pedro, que é tudo, menos chave.

Você entendeu do que estamos conversando? Não é de significado, é de metáfora. Coisa de humanos. Humanos, ta! Porque esse produto “metáfora” anda escaaasso no mercado, ultimamente.

Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível.

Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível.

Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo-nada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível.

Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora.


Essa é do menino Gil. Aquele que era músico, depois virou ministro... Deixa pra lá.

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