terça-feira, 6 de setembro de 2011

DIVÃ 3

O que uma sessão de análise não é?

Um punhado de coisas. Não é sessão de descarrego, não é sessão de conselhos, não é quarto de milagres, não é bate papo legal, não é aula e, para quem também atende outras pessoas, não é lugar de falar dos próprios pacientes, um trem que tecnicamente se chama “supervisão”. Se tiver mais alguma coisa, pode acrescentar.

Existe um componente de descarrego? Sim, existe. É o que se chama catarse, purgação, botar pra fora, vomitar o que engoliu e fez mal. Estamos aí na parada pra o que der e vier. Muitas vezes a gente sente falta de um martelo, né? Lembra-se da Rita Pavone: “Datemi um martello. Che cosa ne vuoi fare? Lo voglio dare in testa...” É isso aí. Tem dias, tem horas... que uma bom martelo na testa até parece que resolveria quase tudo.

Mas não vale a pena: o crime não compensa. Na hora da raiva, melhor mesmo é a gente conseguir dizer que vai jogar o outro pela janela, só pra não precisar fazer isso. Por isso e pra isso, também existe a sessão de terapia. Aliás, outra coisa: por enquanto, e só por enquanto, vamos chamar aquilo que fazemos ali de “terapia”. Mais à frente, vai aparecer um nome melhor, com outro conceito melhor, daquilo que as pessoas fazem numa sala (só por enquanto) de terapia.

Esse componente do descarrego é o que atrai e mantém muita gente na terapia. Fala-se, fala-se, fala-se... Afinal, não é pra falar que a gente foi ali? “A gente veio aqui pra beber ou pra conversar?” Lembra? Como, ali, não é pra beber, só pode ser pra falar. A mesma boca que beija e morde e come e canta, também fala. Santa boquinha!

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