sexta-feira, 16 de setembro de 2011

divã 12

Quem vai à missa, reza: “Eu pecador me confesso a Deus, porque pequei muitas vezes, por pensamentos e palavras, atos e omissões...”

Caramba, pegaram tudo! Não sobrou nada! Que é isso minha gente! Nem pensamento pode! Nem pecar em pensamento, pode!

Pensar pode! Mas e quando pensar não pode? E quando nem pensar pode? Aí fica complicado. “Diiivéras” complicado, como se diz na minha terra.

Pra evitar pensar no que eu não quero ou não posso ou não devo (nem) pensar, existem alguns mecanismos de defesa. Trem bão, sô! E funciona? Funcionar... funciona. Mas, falha. É que nem cachorro do vizinho: “Amigo, amigo”, e ele não pega. Um dia...

E o que é isso: mecanismo de defesa?

1) MECANISMO DE DEFESA É UMA MANIPULAÇÃO DA PERCEPÇÃO, PARA PROTEGER VOCÊ DA ANSIEDADE DIANTE DO PERIGO.

2) MAS NÃO SÓ DA ANSIEDADE. A FUNÇÃO DO MECANISMO DE DEFESA É MANTER VOCÊ IMPERMEÁVEL À SENSAÇÃO DE DESAMPARO DIANTE DO PERIGO.

Ufa! Já viu que essa conversa é longa, né.

Pra começar, observe os termos: manipulação da percepção. Ninguém manipula a realidade. Não há como manipular a realidade, até porque ninguém sabe direito o que ela é. O que a gente manipula é a percepção da realidade, só a percepção. Mas, Ô... manipula mesmo e o tempo todo!

Imagine que a esposa, no aniversário dela, esperando um anel da Vivara, ganhe de presente do marido um ferro de passar roupa, novinho! (Silêncio sobre a Terra.) Opção 1: ela arrebenta a cabeça dele com o ferro. Opção 2: ela diz pra si mesma: Que bom! O outro aparelho já estava velho, mesmo! E vai, feliz que só, passar a roupa que lhe cabe nessa vida.

Ela manipulou algo dentro de si. Mas não foi a realidade: a do ferro que veio no lugar no anel. A realidade continua lá, bunitinha, no mesmo lugar. O que ela manipulou foi a percepção da realidade, foi o jeito de enxergar e de carregar um peso que desanca qualquer um.

O real é sempre o mesmo. Mas, e se você não aguentar com ele? E se você não conseguir nem olhar pra ele? E se você não puder nem pensar nele?

O paciente de câncer, depois da cirurgia, precisa realmente acreditar “que jogou aquilo fora, que acabou o problema, que ele está novo em folha, e sai pra lá urucubaca!” Se o sujeito sabe ou não que não é bem assim, não faz diferença. Naquele momento, faz toda diferença, pensar daquela forma, raciocinar aquele jeito, resolver assim. E se não resolver? Ah, isso a gente vê depois!

Tem coisa que é difícil de pensar. Pensar, dói. “Por pensamentos e palavras, atos e omissões.” Mas pensar, pode! Pelo menos, isso, pode! A questão é se você permite. Por falar nisso, você permite? Você deixa você pensar naquilo que você pode pensar? Ou, quem sabe, ainda sejamos crianças, que acreditam no pensamento mágico, do tipo, quando a gente tinha de bater na boca se falasse o nome “da doença feia”? Aquilo era mágico; se falasse, pegava. Nas horas de angústia, quando regredimos e infantilizamos, o pensamento mágico pode nos escorar e nos manter em pé. Pode. Mas é um equilíbrio frágil, frágil demais.

A questão é o que fazer com o pensamento que não para de pensar. Ô bichinho! Parece cupim!

Um comentário:

  1. Brilhante!Pensamentos não se seguram, só as palavras e nossa expressão que conseguimos mascarar...mas os pensamentos voam de acordo com o vento,para lugares sempre melhores!

    ResponderExcluir