sábado, 4 de fevereiro de 2012

DAVIII... IH! – 4

“Conheço o filho de Jessé de Belém. Ele sabe tocar e é valente guerreiro. Além disso, fala bem, é de bela aparência e D’us está com ele” (1Sm 16,18)


Um novilho segue-o com dificuldade. Belém está à sua frente. A ansiedade surge dentro dele. Fazendeiros no campo notam sua presença. Aqueles que conhecem seu rosto sussurram seu nome. Aqueles que ouvem o seu nome se viram para fitar seu rosto.

“É Samuel?”

O sacerdote escolhido de Deus. O filho de Ana. Seu mentor era Eli. Foi chamado por Deus. Quando os filhos de Eli se tornaram corruptos, Samuel deu um passo à frente. Quando Israel precisou de foco espiritual, Samuel o proveu. Quando Israel quis um rei, Samuel ungiu... um... rei: Saul. Mesmo contra sua vontade. Aliás, totalmente, contra usa vontade.

Agora, é esse nome que leva Samuel a gemer. Saul. O alto Saul. O forte Saul. Os israelitas queriam um rei, por isso temos um rei. Queriam um líder, por isso temos... um... miserável. Samuel olha de um lado para o outro, com medo de que pudesse ter dito em voz alta o que não pretendia senão pensar. E talvez nem isso.

Ninguém o ouve. Ele está seguro... tão seguro quanto se pode estar durante o reinado de um rei que se tornou paranóico. O coração de Saul está ficando mais duro, seus olhos ainda mais perturbados. Ele não é o rei que costuma ser. Aos olhos de Deus, nem rei ele é mais.

Daí, Javé diz para Samuel: “Até quando você irá se entristecer por causa de Saul? Eu o rejeitei como rei de Israel. Encha um chifre com óleo e vá a Belém; eu o enviarei a Jessé. Escolhi um de seus filhos para se tornar rei.” (1Sm 16,1)

E assim Samuel segue o caminho para Belém. Seu ventre remexe, seus pensamentos correm. É perigoso viver sem um líder em momentos explosivos.

Os mil anos AC foram tempos ruins para esse ajuntamento decadente de tribos chamado Israel. Josué e Moisés foram heróis que brilharam na história. Três séculos de inverno espiritual haviam congelado a fé do povo. Um escritor descreveu os dias entre Josué e Samuel com esta sucinta frase: “Naquela época não havia rei em Israel; cada um fazia o que lhe parecia certo” ( Do Livro dos Juízes 21,25). A corrupção alimentava a divisão. A imoralidade gerava brutalidade. O povo exigiu um rei – mas, em vez de salvar o navio, Saul quase o fez afundar. O primeiro monarca de Israel revelou-se um psicótico, pra evitar dizer, psicopata.

E, então, surgiram os filisteus: cogumelo em madeira podre. Os filisteus eram um povo dado à guerra, sedento de sangue e fonte de gigantes, que monopolizava o ferro e o trabalho dos ferreiros. Eles eram pardos. Os hebreus eram rosados. Os filisteus construíam cidades; os hebreus amontoavam-se em tribos e tendas. Os filisteus faziam armas de ferro; os hebreus lutavam com fundas e flechas grosseiras. Os filisteus gritavam ameaças em carros reluzentes; os israelitas retaliavam com facas e ferramentas usadas em fazendas. Certa vez, numa batalha todo o exército hebreu só tinha duas espadas – uma para Saul e a outra para seu filho Jônatas (1Sm 13,22). Dá pra acreditar nisso!

A corrupção morava do lado de dentro. O perigo vinha de fora. Saul era fraco. A nação, mais fraca ainda. O que Samuel deveria ter feito? Sei lá. Só sei que, ouvindo D’us, ele fez o que ninguém imaginou. Enviou um convite surpresa para todos os que eram de Nenhum Lugar.

E D’us? Para onde enviou Samuel? Foi para Piripiri, no PI? Não. Enviou-o, então, para São Sebastião do Curralinho, em AL? Não, exatamente. Já sei. Deu pra Samuel uma passagem de ônibus para Brazópolis, MG? Bem que poderia ter sido! Tudo bem, ele não fez nada disso. Mas bem que poderia ter feito. A cidade Belém da época de Samuel (se é que aquilo era uma cidade) era parecida com Piripiri, São Sebastião do Curralinho, ou Brazópolis. Uai, será por isso que Brazópolis é a “Cidade Presépio”? Ara.

Belém era um lugar sossegado, esquecido no tempo, que descansava numa montanha no sopé de outras mais altas, a dez quilômetros ao sul de Jerusalém. Belém da Judéia ficava cerca de 600 metros acima do mar. De lá, se viam colinas suaves e verdes que aplainavam pastos desolados e irregulares. Rute conheceu essa aldeia. Jesus teria nascido lá, se a gente não soubesse que ele nasceu, realmente, foi em Nazaré da Galiléia: O Nazareno, Rei dos Judeus. Lembra?

Seja como for, a lenda é mais forte. O “fato” é que, mil anos antes de nascer um bebê numa manjedoura, Samuel entra na vila, puxando um novilho. Sua chegada faz com que os habitantes virem suas cabeças para vê-lo. Profetas não visitam Belém. Ele tinha vindo para castigar alguém ou para se esconder de alguém? Nem uma coisa nem outra – assegura o profeta de ombros caídos. Ele viera para sacrificar o animal para D’us e convida os anciãos, e Jessé e seus filhos, para se juntarem a ele.

Momento de perigo. O bicho ia pegar!

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