sábado, 4 de fevereiro de 2012

DAVIII... IH! - 1

“Conheço o filho de Jessé de Belém. Ele sabe tocar e é valente guerreiro. Além disso, fala bem, é de bela aparência e D’us está com ele” (1Sm 16,18)


Nunca me canso de observar como Javé, o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel e candidato a se tornar Senhor universal tem um mau gosto de assustar! É impressionante como as coisas acontecem na Bíblia! Observe. Adão fez aquela caca, e estamos pagando a conta até hoje. Caim: deu no que deu. Noé, de porre, nem viu que era com as próprias filhas que estava transando. Abraão vendeu Sara e (pior!) entregou. Moisés tinha distúrbio de personalidade. Josué matou homens, mulheres e crianças (crianças!) a fio de espada e achou tudo uma beleza. Saul era um paranóico perigoso que atentou contra a vida do próprio filho. E Davi...

Veja Davi!

A história de Davi não começa num campo de batalha com Golias. Ah, não mesmo! Ou não seria uma história da Bíblia. Na Bíblia, tudo é às avessas, sem pé nem cabeça, ao contrário das expectativas, fora de qualquer previsibilidade. Se você pretende abrir aquelas páginas para encontrar alguma coisa previsível, meu amigo, não abra! Aquilo lá é só pra quem gosta de altas emoções, rafting, descer corredeiras, subir em pedras sem apoio algum, pular de para-queda ou de asa delta, pela primeira vez, e sem ninguém segurando. Se você é daqueles que gostam da sua casinha confortável, da sua caminha limpinha, do seu banheiro cheiroso, então, errou de livro. Melhor pegar a última edição do Atlas de Geografia Mundial. Ou, quem sabe, um manual de psiquiatria farmacêutica cheio de bulas de remédio. Que tal o CID 10! Por que não um dicionário de termos técnicos de engenharia quântica ou de matemática pura? Interessantíssimo!

Mas não a Bíblia! Pelo amor de Deus! E não nas encostas das montanhas de Belém. Porque é lá que estamos. Nas encostas das montanhas de Israel.

Portanto, esqueça tudo o que você já viu em filmes. Sobretudo, se você azia acompanhar de um saco de pipocas com queijo tamanho grande e mais meio litro de refrigerante e mais qualquer porcaria dessas que faz a gente sair da sala de cinema com vontade de vomitar. Esqueça.

Ah! Esqueça também a belíssima estátua de Davi de Michelangelo que enfeita Florença. O jovem de 19 anos que serviu de modelo era amante do escultor e não tinha nada a ver com Davi. Davi era um rei tribal, tosco, sem nenhuma frescura e... Deixa pra lá que isso daqui não é fofoca de programa de TV.

Então, como é mesmo? É sobre Davi que vamos conversar? Então, esqueça tudo o que você já viu. Porque a partir de agora estamos nas montanhas de Belém, na companhia de um velho sacerdote de barba prateada, que anda devagar por um caminho estreito. Uma, porque o caminho é estreito, mesmo. Outra, porque ele está estrangulado de angústia e medo. (Samuel.) Se Saul souber...

É. Porque a coisa já começou torta.

“Javé disse a Samuel: Até quando você vai ficar lamentando Saul? Fui eu mesmo que o rejeitei como rei de Israel. Encha a vasilha de óleo. Ordeno que você vá ter com a família de Jessé, o de Belém, porque eu escolhi um rei entre os filhos dele. Samuel replicou: Como posso ir? Saul me matará se ficar sabendo! Javé, porém, disse: Leve um bezerro, e diga que foi fazer um sacrifício para Javé. Convide Jessé para o sacrifício e eu mostrarei o que você deverá fazer. Você ungirá para mim aquele que eu apontar.” (1Sm 16,1-3).

Quer dizer que... Olha aí, gente, Javé dando um jeitinho brasileiro! O Ministério da Saúde adverte: Cuidado, que Deus é brasileiro!

Mas peraí. Primeiro, o convite. Você quer me acompanhar um pouquinho numa trajetória meio maluca com esse mesmo velho sacerdote de barba cor-de-prata, que agora anda devagar por um caminho estreito? Pode? Então, se prepare, porque a coisa vai longe!

Se você vem me acompanhando em passo de enterro atrás de Lázaro, prepare-se porque atrás de Davi você vai correr. Porque Davi é pura adrenalina. Davi é um sobe-e-desce de montanha russa imprópria para estômagos fracos e labirintites frouxas. Davi é... Daviii... Ih!

Em termos de história bíblica, Davi é o segundo figurão de Israel, perdendo apenas para Moisés – claro! – que ocupa um lugar “hors concours” como pai-fundador do povo. Em termos de história mundial, Davi é o equivalente judeu do Alexandre dos gregos, com direito ao seu Heféstion Amintoros e o bafão geral. Em termos de Hollywood, não entendo como ainda não fizeram uma superprodução sobre ele. Em termos de ficção, são 46 capítulos de puro protagonismo espalhados em três livros do Canon Hebraico. Davi só perde para o “Cavalo de Tróia 1,2,3,4,5,6,7,8,9”... que versa justamente sobre quem? Sobre o “Filho de Davi”. Sim. Porque Jesus não é o Filho de Moisés, é o Filho de Davi. E Hosana hei!

Então, senhoras e senhoras, ladies and gentlemen, the Oscar goes to...

Davi!

E aproveito para dedicar essa série à lembrança dos que não tem nome e à memória dos que não tem memória. E, sobretudo, aos nossos pais. Que não tiveram nem uma coisa nem outra. Mas foram tanto!

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