sábado, 4 de fevereiro de 2012

DAVIII... IH! - 2

“Conheço o filho de Jessé de Belém. Ele sabe tocar e é valente guerreiro. Além disso, fala bem, é de bela aparência e D’us está com ele” (1Sm 16,18)


Bem antes do ano 1000 AC, Israel era um lugar sossegaaado!

Aliás, Israel nem existia no mapa. Talvez, por isso fosse sossegado. A gente só tem sossego quando não se importa com aquilo que ditam que a gente seja. Por isso, Israel era um lugar sossegado.

Quando alguém dizia: Ei, Israel! Você é o povo escolhido por Deus! Israel levantava o polegar direito e dizia: Que bom!

Se alguém dizia: Ei, Israel! Você não vale nada! Israel virava as palmas das mãos pra cima e concordava: Que chato!

E ainda quando ou se alguém garantia: Israel, to contigo e não abro! – sabe o que Israel fazia? Seguia em frente, apascentando rebanhos, colhendo o pouco que conseguia plantar no meio das pedras, e adorando um D’us que teimava em afirmar que eles eram o povo eleito. Ainda que toda aparência contrária fosse... contrária.

Israel nem ligava. Apenas plantava, apascentava e esperava, esperava e apascentava e plantava. Aliás, numa coisa Israel se tornou expert: foi em esperar. Até hoje!

Pois é. Israel era um lugar sossegado. Havia pequenas tribos que se auto-geriam através de um governo central. Esse governo central das tribos era “gurusado” (do verbo “gurusar”) , por uma espécie de guru, o velho sacerdote de barba prateada que, a pouco, nós deixamos vagando num caminho estreito com um nó ainda mais estreito na garganta. Como ele anda devagar, não é preciso ter pressa. E nós podemos nos dar o luxo de voltar tempos atrás, quando Israel ainda sabia quem era, quando Israel ainda portava uma identidade, antes de ter perdido a paz.



Senta que lá vem a história.

Assim que escapou do Egito, Israel vagou pelo deserto. Depois disso, invadiu (não é de hoje!) ou retomou (depende do ponto de vista) a Palestina, e a partir daí o povo viveu uma espécie de época de ouro da história. (Os gregos tiveram a sua. E os maias, os incas, os celtas...) Naquela época, os hebreus não tinham um rei. Eram liderados por juízes. No tempo dos juízes, Javé era considerado o rei de Israel. Bonito isso, né!

As cidades viviam uma espécie de federação, num regime político de independência. Se enfrentassem algum perigo, podiam se unir num pacto de ajuda. Nem preciso dizer o quanto o povo hebreu vivia sujeito à pilhagem dos inimigos – os filisteus e os amalecitas – gente que havia sido escorraçada da terra quando Israel se re-implantou nela, o equivalente dos árabes de hoje. Pra dizer a verdade, Israel era só um minúsculo corredor de 300 por 45 km, (menor que o trecho SP-RJ), embutido entre as duas potências militares da época, o mar e o deserto. “Se correr o bicho...”

Os líderes eram chamados de juízes. Eles detinham o poder de dirimir as contendas entre os habitantes do lugar, e de trazer a palavra de Javé. Ah, e eles conversavam com D’us! E isso não devia ser pouca coisa! Samuel, que sucedeu a Eli, foi o último dos juízes. Mas na velhice, ele outorgou o poder aos dois filhos: Joel e Abias. E não é que eles foram pra lá de corruptos! (Novidade!)

Parece que a repetição é infalível. Porque a história dos filhos de Samuel apenas repetiu a história dos filhos de Eli, antecessor dele. Também os filhos de Eli haviam se entregue à corrupção. (Novidade, de novo!) Olha só!

Os filhos de Eli eram desonestos e não se preocupavam, nem com Javé, nem com as obrigações de sacerdotes para com o povo. Toda vez que alguém oferecia um sacrifício, enquanto se cozinhava a carne, o ajudante do sacerdote ia com um garfo de três dentes, enfiava-o no caldeirão ou na panela, no tacho ou na travessa, e tudo o que o garfo prendia pertencia ao sacerdote. Assim faziam com todos os israelitas que iam a Silo. Antes de queimar a gordura, o ajudante do sacerdote também dizia à pessoa que ia oferecer o sacrifício: Dê-me a carne, para que o sacerdote asse como quiser. Deve ser carne crua, porque ele não aceitará carne cozida. Se a pessoa respondia: Primeiro é preciso queimar a gordura, depois você poderá levar o que quiser – o ajudante dizia: Não. Ou você me dá a carne agora mesmo, ou a tomarei pela força. O pecado desses ajudantes era grave diante de Javé, porque desonravam a oferta feita a Javé.

Apesar de Eli já ser muito velho, estava sempre informado de tudo o que seus filhos faziam com todos os israelitas, e que eles se deitavam com as mulheres que prestavam serviço na entrada da tenda da reunião. Eli dizia a eles: Por que vocês fazem isso? As pessoas me contam como vocês se comportam mal. Não, meus filhos, o que me contam não é nada bom. Vocês estão escandalizando o povo de Javé. Se um homem ofende outro homem, Deus poderá intervir em favor dele. Mas se alguém peca contra Javé, quem poderá interceder por ele? Eles, porém, não deram ouvidos ao pai, porque Javé tinha decidido tirar-lhes a vida. (1Sm 2, 12-25)

Coisa antiga, né!

Acontece que Eli foi esperto e não deixou que os filhos o sucedessem. Nomeou Samuel no lugar. Samuel, por sua vez, era um pai-coruja, não via os defeitos dos filhos, nada fazia e deixava que eles pilhassem o povo a bel-prazer. O povo não gostou. Uai, quem gosta?

(Diretamente da Rádio Brazópolis!)

Quando já estava velho, Samuel estabeleceu os dois filhos seus como juízes em Israel. Seu primeiro filho se chamava Joel, e o segundo Abias. Os dois exerceram o cargo de juiz em Bersabéia. Eles, porém, não seguiram o exemplo do pai, deixando-se levar pela ganância: aceitaram suborno e distorceram o direito. (1Sm 8,1-4)

Vixi!

Foi aí que o povo começou a clamar por um rei: um governo central, que pudesse unir e proteger o povo contra os perigos externos e os internos. Na verdade, o povo estava dividido quanto à essa história de rei. Mas os desmandos dos filhos de Samuel eram tantos que eles não tiveram escolha. E foram falar com Samuel.

(Diretamente da Central de Notícias!)

Então os anciãos de Israel se reuniram e foram até Samuel, em Ramá. Disseram a Samuel: Veja. Você já está velho e seus filhos não seguem o seu exemplo. Por isso, escolha para nós um rei, para que ele nos governe, como acontece em todas as nações. Não agradou a Samuel a frase que eles disseram: Dê-nos um rei para que nos governe. Então Samuel invocou a
Javé. E Javé disse a Samuel: Atenda à voz do povo em tudo o que eles pedirem... Atenda o pedido deles. Contudo, mostre com clareza e explique para eles o direito do rei que reinará sobre eles. (1Sm 8, 1-8)

Ou seja, mostre a eles a barca furada, o péssimo negócio (esse, de rei) que eles estão pedindo. Mas adiantou? E adianta? Samuel resistiu até onde pode a essa idéia de plebiscito. Na verdade, o que ele não queria era ter os poderes diminuídos. E aí ele elaborou uma lista de inconvenientes, de tirar qualquer um da fila da votação.

Olha a tragédia!

Samuel transmitiu todas as palavras de Javé ao povo que lhe pedia um rei. E lhes disse: Este é o direito do rei que governará vocês: ele convocará os filhos de vocês para cuidar dos carros e cavalos dele, e a correr à frente do seu carro. Ele os obrigará a ararem a terra dele e fazerem a colheita para ele, a fabricarem para ele armas de guerra e as peças dos seus carros. As filhas de vocês serão convocadas para trabalhar como perfumistas, cozinheiras e padeiras. (kkk!) Ele tomará os campos, as vinhas e os melhores olivais de vocês, para dá-los aos ministros. Pegará a décima parte das plantações e vinhas de vocês, e as dará aos oficiais e ministros. Os melhores servos, os bois e jumentos de vocês, ele os tomará para que fiquem a serviço dele, e cobrará, como tributo, a décima parte dos rebanhos. E vocês mesmos serão transformados em escravos dele. Quando isso acontecer, vocês se queixarão do rei que escolheram. Nesse dia, porém, Javé não dará nenhuma resposta a vocês. (1Sm 8, 9-18)

Adiantou? Humm!

O povo não quis nem ouvir as explicações de Samuel, e disse: Não tem importância. Teremos um rei, e seremos também como as outras nações: nosso rei nos governará, irá à nossa frente para comandar nossas guerras. (1Sm 8, 21)

P. da vida, “Samuel ouviu tudo o que o povo disse e foi contar a Javé. E Javé respondeu: Se é isso que eles querem, mande ver! Estabeleça um rei sobre eles.” (1Sm 8, 22)

Como não teve outro jeito, Samuel se curvou à vontade do povo. E a escolha recaiu sobre Saul. Saul era a bola-cheia da vez, o herói do momento. Mas quem disse que Saul queria ser rei! Ou por humildade ou por falsa-humildade ou pelo mais descarado jogo político ou por tudo isso junto, Saul resistiu, bravamente.

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