domingo, 23 de outubro de 2011

DIVÃ 16

Segue em frente a renomada série: “Divã”!

Lembra da última vez que a gente falou que recalcar significava colocar no freezer o que você vê e sente. É assim: a gente vê; vê, sim. A gente sente; sente, sim. Mas nem bem vê o que vê nem bem sente o que sente. A gente “pula essa parte”. Entendeu? O resultado disso nem sempre é bom, e nem pode ser, né! Pode surgir daí uma aridez emocional e uma falta de vontade pra tudo na vida, que não deixa nada ir pra frente. Se você regar, não molha. Se plantar, não brota. Se brotar, não vinga.

Mas preste atenção a uma coisa: o recalque é seletivo. Nem tudo é recalcado. Lembra da idéia e do afeto? O que foi recalcado foi a idéia: as lembranças que deveriam ter ficado passeando na mente. Essas idéias somem. É o famoso: “Deu um branco!” “Não me lembro de nada.” “Não lembro nada da minha infância.” “Esqueci!...”

É que a idéia foi recalcada. Mas e o outro componente, o afeto? Lembra dele? Pra onde foi?

Foi pra lugar nenhum. Ele fica solto, desligado, aprontando das suas. Dessa forma, provoca sintomas, doenças, mal estar, depressão, dependência, desatino de vida... É ele, o afeto.

É que existe uma geografia política dentro da gente. Freud nos mostrou que somos internamente divididos. Não existe o indivíduo: o indivisível. Somos divididos. E quando as autarquias internas não se dão bem, quem paga o pato é o sujeito: você, mesmo!

Não importa como essas divisões sejam enunciadas. Freud falou de Id, Ego, Superego. Não. Ele não falou em nada disso. Freud falou de “Isso”, “Eu” e “Supereu”. O Isso é aquilo que não tem nome. Quando as coisas estão ruins aí dentro, você diz: tem uma coisa ruim, “isso” não ta bom! O Eu é quem, coitado, tenta dar nome às coisas e aos sentimentos. Nomear não significa apenas chamar pelo nome. Nomear é delimitar, comportar, suportar. O Eu é o gerenciador do sistema. O Supereu é o capataz encarregado da ordem na fazenda. Quando ele abusa do poder, quem apanha é o Eu.

O Eu sofre pressões de todo canto e de toda ordem. Sofre pressões do Isso, ávido de satisfação. Sofre pressões do Supereu, sádico, sacana. Sofre pressões do meio ambiente, e aí a lista das exigências é grande: trabalho, família, tradição, cultura, sociedade, religião...

O Eu sabe que qualquer concessão que ele faça, pode despertar o Supereu sádico com a arma que ele tem: a culpa neurótica. Onde se falou de culpa neurótica, leia-se ansiedade. E aí a coisa fica feia, porque Dona Ansiedade é de matar.

Por falar nela, você conhece essa senhora?

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