sábado, 21 de abril de 2012

TECNOÉTICA – 4

Tudo isso pode ser dito em outras palavras: é hora de mudar práticas e rever atitudes. Não adianta apenas pensar e concordar teoricamente que o mundo mudou e criou incentivos diferentes, caminhos alternativos e perigos novos. Isso não vai mudar nada se não vier acompanhado de uma mudança na forma de agir e de se posicionar diante da ética e da realidade. Mas, sobretudo, da realidade. É o real que comanda o espetáculo.

A ética, talvez, não mude. O que muda é o posicionamento diante da ética. A realidade continua a mesma. O que mudou foi a percepção da realidade. O problema é que a percepção da realidade, imposta pelo novo ambiente sociocultural em que estamos plantados, é algo ainda muito recente, nem sempre percebido e nem sempre considerado. A grande maioria simplesmente ignora o impacto real, prático e diário dessa tecnologia nas suas vidas, sobretudo, nas pequenas atitudes do dia-a-dia.

Na minha infância, o máximo da tecnologia caseira era colocar cabo na lata de óleo pra virar caneca. Agora já existe uma câmera até nas praças das pequenas cidades, mostrando para o mundo o que se passa ali. Falar em tecnologia é mais do que falar em equipamentos eletrônicos, computadores, notes, nets e a parafernália à venda em 15 prestações nas boas lojas do ramo. Querendo ou não, o ambiente tecnológico é o próprio ambiente social impregnado pela tecnologia em cada mínimo detalhe, misturado com ética e responsabilidade.

Não é mais possível crer que comportamentos que poderiam passar despercebidos e impunes até pouco tempo, irão continuar com esse salvo conduto. Ser ingênuo e inocente, hoje em dia, é desprezar os perigos embutidos em nossas ações, antes mesmo de praticá-las. Algumas práticas que eram válidas até uma década atrás, simplesmente, deixaram de ser. Algumas premissas de análise de uma década atrás, simplesmente, deixaram de existir.

ISSO NÃO SIGNIFICA JOGAR FORA TODAS AS CERTEZAS ACUMULADAS AO LONGO DA HISTÓRIA HUMANA.

Fundamental é perceber que precisamos nos esforçar para incorporar novas dúvidas aos nossos diagnósticos da realidade. É preciso ter a coragem de questionar as certezas até para atestar se elas ainda permanecem adequadas. Luz! Foi o que Deus criou no primeiro momento e o que Goethe pediu no último.

Ao mesmo tempo, é preciso buscar novos paradigmas e incorporá-los o quanto antes à vida prática.

A ética se baliza pela proximidade do outro. O outro nunca esteve tão próximo de nós. Nunca antes nossa imagem esteve tão virtualmente perto de todos os outros demais. Uma nova forma de ver impõe uma nova forma de se expor. Estamos a cada dia mais vulneráveis ao olhar do outro.

Nós já passamos pelo homo faber, pelo homo erectus, pelo homo sapiens e pelo sapiens sapiens. Terá chegado a vez do homo bytes?

Isso impõe uma nova forma de se ver e de ver o mundo. Que mundo nos espera? O que esperamos do mundo? Que ética teremos a oferecer para viver nesse mundo?

Tudo é novo demais quando o assunto é tecnologia. Tudo é velho demais quando o assunto é: Vamos mudar o que precisa ser mudado? Vamos, pelo menos, pensar?

Eu volto. E termino.

Um comentário:

  1. Renato, este blog tá muito parado. Precisa colocar mais postagem ai. Entro todo dia e fico decepcionada por não ver nada novo. Adoro ler suas crônicas.

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