sábado, 21 de abril de 2012

TECNOÉTICA – 3

Esses dados não são teoria. São uma realidade prática que se desdobra, todos os dias, em torno dos nossos olhos e que cria uma nova forma de ver o mundo e, consequentemente, uma forma nova de ser expor. Há um novo mundo entre as nossas rotinas e as nossas retinas.

Por falar em retina, toda transformação ética passa pela invasão do olhar: aquilo que foi chamado de tecnoética. A revolução tecnológica do olhar invadiu até a privacidade da sala de parto. Os partos, hoje, são filmados e exibidos na sala-de-visita para olhares indiscretos, impróprios e absolutamente fora de contexto. Um horror!

Quer mais?

Na noite de 31 de agosto de 1997, a princesa Diana faleceu num acidente de carro em Paris. Minutos antes, sua imagem, registrada a sua revelia, foi gravada saindo do hotel com o namorado. A câmera estava lá, registrando para a posteridade os últimos momentos da princesa. A imprensa levou a imagem para o mundo inteiro.

No dia 04 de fevereiro de 2002, Herbert Viana sofreu um acidente enquanto pilotava um ultraleve. Disso, resultou a perda da mulher. Ele sobrevoava uma praia deserta do RJ, mas alguém tirava fotos naquele final de tarde de domingo, e registrou a queda. A imprensa espalhou.

Do juiz Nicolau dos Santos Neto, a coisa fica ainda mais tenebrosa. Dois dos indícios para comprovar que ele havia enriquecido ilicitamente não foram produzidos pelos inimigos, mas por ele próprio: a foto ao lado de uma caríssima Lamborghini, feita pelo genro do juiz, e um vídeo filmado e narrado pelo próprio juiz dentro do apartamento de luxo nos EUA. Pode!

O exemplo pra lá de picante fica a cargo do príncipe Charles e sua conversa gravada com a, então, amante Camila Parker Bowles. Quem não se lembra da frase: Eu quero ser o seu tampax? Crem-dos-pai! Por que essa conversa íntima chegou até nós? E o presidente Bill Clinton que quase perdeu o cargo quando veio à tona o affair com uma estagiária da Casa Branca? A prova foi produzida pela tecnologia do DNA, quando se constatou sêmen presidencial no vestido da moça.

Lembram-se do juiz do Ceará, flagrado pelo circuito interno do supermercado quando atirou e matou um funcionário indefeso? E do juiz ladrão da FIFA, que teve conversas gravadas nas quais deliberava os resultados das partidas? E do atentado ao metrô de Londres, em 2005? As imagens da tragédia foram feitas por telefones celulares dos usuários do metrô. É a desgraça ao vivo, em cores, real time. Só faltou o cheiro.

O que esses exemplos mostram é que hoje estamos muito mais expostos do que nunca a todo tipo de olhar indiscreto e invasivo. Gente, tá tudo filmado! Embora muita gente continue subestimando ou ignorando as conseqüências de determinadas escolhas, elas não podem mais ser feitas a esmo.

A pergunta é: foi a ética, o olhar ou a engenhoca à disposição – o que mudou?

Feliz ou infelizmente, daqui pra frente, pra se falar em ética, terá que se falar em tecnoética. É que já é possível falar com câmeras e conversar com vestidos de estagiárias!

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