sábado, 31 de março de 2012

LÁZARO, SAI DESSA, RAPAZ! – 24

E Jesus gritou com voz forte: Lázaro, vem para fora! E o morto saiu, tendo mãos e pés amarrados com faixas, e o rosto envolto num sudário. Disse-lhes Jesus: Desliguem-no e deixem-no ir. (João 11,43-44)

Um caso de melancolia numa casa de Betânia
João 11

No fim das contas, onde ficou Marta? Marta não ficou, saiu. Não aparece mais em lugar algum. Não é estranho que, entre as mulheres, ao pé da cruz, não se encontrassem as duas irmãs de Betânia? Até a geografia contribuía. Mas não estão lá. Marta some do mapa, torna-se invisível. Como uma figura emblemática, ela condensa o feminino de todos os tempos, e o horror à mulher compartilhado pelos homens, desde a noite dos tempos. Tirada da costela de Adão, coparticipante do mesmo projeto divino, igual em dignidade e valor, nada disso foi ou continua suficiente para fazer da mulher uma... igual.

Ao perfume de Maria “que encheu a casa toda” corresponde o mau cheiro anunciado por Marta. Perfume e mau cheiro falam de uma mesma percepção, avaliada diferentemente conforme a situação que em cada um se encontra. O perfume evoca sublimação, um conceito difícil de entender.

Sublimar é morrer um pouco.

há diferentes perfumes. Os perfumes, de Maria e de Nicodemos, aparecem na proximidade, ainda que contingente, da morte. Mas observem que algo muda: muda o modo e a quantidade como aparecem no texto. Maria leva 1 libra. Nicodemos, 100 libras. São intensidades diferentes numa mesma relação. Para Maria, existe uma relação onde investir. Se o que ela leva é uma libra de perfume, nem precisa mais: é nardo puro, raro e de valor excepcional. A casa toda se enche com o perfume de Maria (Jo 12,3). Tal como a sua relação com o Rabi. É o perfume da vida.

Para Nicodemos, ao contrário, a relação não existe mais, porque nunca existiu. Nicodemos foi aquele que se encontrou com Jesus, à noite, por medo. Que relação consegue se constituir em meio ao medo? Que eu saiba, nenhuma, sadia. O perfume de Nicodemos é o perfume do medo no umbral da morte. Tal como a sua relação.

Sublimar é morrer um pouco.

Mas é a morte da semente, e só. Morre-se semente, para voltar árvore. É impressionante a contemporaneidade do evangelho! O que mal sabemos, hoje, eles, bem lá atrás, já conheciam.

Um comentário:

  1. "O que mal sabemos, hoje, eles, bem lá atrás já conheciam".
    E essa sensação estranha de que: já estive aqui, já falei e já estive com você em outros tempos...??
    É como se a vida, a história continuassem em sequência(a mesma), só muda os personagens. Porque até os nomes as vezes é o mesmo. Como explicar isso..??
    É uma infinitude de dúvidas e certezas misturadas. Vivemos e morremos sem saber é nada..!!! É uma sede de saber, de encontrar pronto uma explicação. Abraços. Vou seguir seus dizeres: continue perguntando....."

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